dezembro 24, 2005

Fundamentos Filosóficos (2)

Quando nos deparamos com a Filosofia, sempre nos surge a questão: para quê? Responder a esta questão não é algo simples. Deveria ser! A resposta exige paciência e num mundo como o nosso em que paciência é uma palavra sem sentido, resulta complicado explicar algo com a filosofia ou por qual razão a filosofia é importante em poucas palavras.
Alguns professores não perdem seu tempo e vão direto a resposta: porque é importante! Contudo, apesar de a resposta não estar errada, ela é desrepeitosa com quem a fez. Ainda que uma pessoa que considera que as coisas são mercedoras de atenção apenas se forem "úteis", mereça uma resposta destas, o melhor é ter paciência e explicar, ilustrar, considerar. O trabalho filosófico é essencialmente de "consideração". Por consideração é possível entender dois aspectos distintos sobre coisas e pessoas. Por um lado considerar significa "ter respeito", por outro também significa "pensar sobre". Assim, quando considero o que uma pessoa me diz, faço uma tarefa dupla: respeito o que ela diz e, também, penso a respeito. Neste semestre de disciplina de Fundamentos Filosóficos será exigido de você a mesma atitude: consideração!
Voltando a questão inicial: para quê estudar filosofia? Bem, se esta questão tem sentido para você, provavelmente você é uma daquelas pessoas práticas, objetivas, e que pensa nos resultados. Pois bem, a Filosofia é da mesma forma. A Filosofia surgiu exatamente como uma tentativa de ser objetivo, claro, prático. Ocorre, que estamos num mundo cercado de "botões mecânicos"; cada botão faz com que algo se mova: sobe, desce, etc. Neste mundo de hoje, nada têm muita utilidade a não ser que se tenha um botão para apertar. Não é o caso da Filosofia. Assim, falar de Filosofia pode parecer, aos olhos de nosso tempo, algo inútil. Contudo, a Filosofia se dirige para o mundo interno de cada ser humano. Esta característica ela recebeu de seu "fundador": o grego Sócrates.
Sócrates viveu numa época de "praticidades" na cidade-estado de Atenas: estavam discutindo tudo por lá. Discutia-se a verdade e o que ela é, o que é o bem e o mau, o que era justo e o que era injusto na sociedade. Ocorre que os atenienses possuiam tantos deuses que ficava difícil não contrariar algum deles com o que você dizia. Sócrates se preocupou, primeiramente, em "clarear o terreno", isto é: em que nível estamos falando, teológico ou racional? Assim, você pode, segundo Sócrates, atribuir uma ato bom a um deus qualquer, mas antes terá de saber o quê é a bondade para separar aquele ato específico dentre vários outros. Sua atribuição é humana e não divina. Complicado? Pois é, Sócrates passou sua vida fazendo estas "distinções". Seu maior ensinamento é o de que devemos considerar as coisas antes de lhes explicar, antes de apontar para elas e dizer "isto aí é tal coisa" ou "Bem? Ora, o Bem é agir de maneria Boa".
Sócrates ensinava outra coisa interessante: se você vive numa cidade (polís), deve respeitar as Leis desta cidade e preservar a mesma. Ele levou tão a sério este ensinamento que serviu como soldado nas lutas de Atenas contra Esparta e, quando Atenas o julgou (injustamente) como culpado de "corromper" a juventude com seus ensinamentos, ele aceitou a condenção. Sua condenação foi beber cicuta, isto é, morrer! Para ele seria fácil "não" cumprir tal condenação, simplesmente fugir; ele possuia amigos, influência em outras cidades, etc. Mas, se fugisse, ele estaria jogando no lixo todos seus ensinamentos. Era exatamente isto que os seus juízes desejavam. Se Sócrates aceita a condenação, então ele irá morrer. Se Sócrates não aceitar morrer, ele terá de negar que obedece as leis da cidade e, assim, renegará seus ensinamentos. Eles os desapontou! Não fugiu. Devido a este ato de coragem e fibra de Sócrates nasceu algo denominado "ser amigo da sabedoria", isto é, ser Filósofo.
Assim, cada Filósofo tenta fazer aquilo que Sócrates ensinou: considerar! Estas considerações se dirigem a tudo e a todos. Logo, falar de fundamentos filosóficos de algo é indicar que se farão algumas considerações sobre os fundamentos daquele tema. Por exemplo, fundamentos filosóficos da Educação: considerações filosóficas sobre o ato de educar - atenção, não são técnicas de educar e sim perguntar qual a influência das técnicas na educação - Fundamentos Filosóficos da História: considerações sobre o que são "fatos históricos", o que significa "ter um passado" e coisas assim.
Logo, se você é uma pessoa utilitarista, daquelas que dizem "não quero perder meu tempo com inutilidades!" Considere: por que você perderia tempo com outras pessoas? Por qual razão outras pessoas deveriam "perder tempo" com você? Além disto, "útil" e "inútil" são adjetivos e não conceitos que descrevem alguma coisa, tal com o conceito de "vermelho", por exemplo.
Assim, tente responder - considere - a seguinte questão: "Qual a sua utilidade como pessoa?".